terça-feira, setembro 05, 2006

... porque é preciso encarar a guarda


Por detrás do vidro fosco, vejo as árvores, parecem de mentira. Mera ilusão. Não vejo mais o mar, sóis e luas. Apenas concretos sem que meu olhar possa atravessá-los. Apenas a tela sem que eu possa pintá-la. Apenas túneis sombrios, em linha reta, sem fios, sem elos, sem ligação. Nada de nós. Uma voz grita para simplesmente deixar. Deixe estar. Mas me vejo ontem, a coisa mais fácil é errar. Uma lágrima, uma dor, um pedido. Difícil aprender, concretos não perdoam, fazem caminhos foscos. Se repetem, em eternos retornos. Sentidos de vida? Quase nenhum, nenhum, o mundo escurece. A história presa nas mãos, no corpo, na voz .... deixa apenas um anúncio, se pelo menos a chuva caísse forte e fizesse tudo explodir, e levasse este tudo em sua enxurrada. Mas não há tempo de espera. A poesia se perde em meio a tanta prisão. Como fazer chover, encarar a guarda, como Dorival? Reivindicar o direito de tomar banho, banho de vida humana, sem cativeiro. Desejo nunca se perde. Adormece. Disfarça. Descansa. Abriga-se no corpo, nas mãos. Alimenta. E estilhaça tudo que é fosco