terça-feira, fevereiro 03, 2009

Chorinho para uma amiga

Se fosses louca por mim, ah eu dava pantana, eu corria na praça, eu te chamava para ver o afogado.
Se fosses louca por mim, eu nem sei, eu subia na pedra mais alto, altivo e parado, vendo o mundo pousado a meus pés.
Oh, por que não me dizes, morena, que és louca varrida por mim?
Eu te conto um segredo, te levo à boate, eu dou vodca pra você beber!
Teu amor é tão grande, parece um luar, mas lhe falta a loucura do meu.
Olhos doces os teus, com esse olhar de você, mas por que tão distante de mim?
Lindos braços e um colo macio, mas porque tão ausentes dos meus?
Ah, se fosses louca por mim, eu comprava pipoca, saía correndo, de repente me punha a cantar.
Dançaria convosco, senhora, um bailado nervoso e sutil.
Se fosses louca por mim, eu me batia em duelo sorrindo, caía a fundo num golpe mortal. Estudava contigo o mistério dos astros, a geometria dos pássaros, declamando poemas assim: "Se eu morresse amanhã... Se fosses louca por mim... ".
Se você fosse louca por mim, ô maninha, a gente ia ao Mercado, ao nascer da manhã, ia ver o avião levantar.
Tanta coisa eu fazia, ó delícia, se fosses louca por mim!
Olha aqui, por exemplo, eu pegava e comprava um lindo peignoir pra você.
Te tirava da fila, te abrigava em chinchila, dava até um gasô pra você.
Diz por que, meu anjinho, por que tu não és louca-louca por mim?
Ai, meu Deus, como é triste viver nesta dura incerteza cruel!
Perco a fome, não vou ao cinema, só de achar que não és louca por mim.
(E no entanto direi num aparte que até gostas bastante de mim...).
Mas não sei, eu queria sentir teu olhar fulgurar contra o meu.
Mas não sei, eu queria te ver uma escrava morena de mim.
Vamos ser, meu amor, vamos ser um do outro de um modo total?
Vamos nós, meu carinho, viver num barraco, e um luar, um coqueiro e um violão?
Vamos brincar no Carnaval, hein, neguinha, vanios andar atrás do batalhão?
Vamos, amor, fazer miséria, espetar uma conta no bar?
Você quer quer eu provoque uma briga pra você torcer muito por mim?
Vamos subir no elevador, hein, doçura, nós dois juntos subindo, que bom!
Vamos entrar numa casa de pasto, beber pinga e ceveja e xingar?
Vamos, neguinha, vamos na praia passear?
Vamos ver o dirigível, que é o assombro nacional?
Vamos, maninha, vamos, na rua do Tampico, onde o pai matou a filha, ô maninha, com a tampa do maçarico?
Vamos maninha, vamos morar em jurujuba, andar de barco a vela, ô maninha, comer camarão graúdo?
Vem cá, meu bem, vem cá, meu bem, vem cá, vem cá, vem cá, se não vens bem depressinha, meu bem, vou contar para o seu pai.
Ah, minha flor, que linda, a embriaguez do amor, dá um frio pela espinha, prenda minha, e em seguida dá calor.
És tão linda, menina, se te chamasses Marina, eu te levava no banho de mar.
És tão doce, beleza, se te chamasses Teresa, eu teria certeza, meu bem.
Mas não tenho certeza de nada, ó desgraça, ó ruína, ó Tupá!
Tu sabias que em ti tem taiti, linda ilha do amor e do adeus? tem mandinga, tem mascate, pão-de-açúcar com café, tem chimborazo, kamtchaka, tabor, popocatepel? tem juras, tem jetaturas e até danúbios azuis, tem igapós, jamundás, içás, tapajós, purus! – tens, tens, tens, ah se tens! tens, tens tens, ah se tens!
Meu amor, meu amor, meu amor, que carinho tão bom por você, quantos beijos alados fugindo, quanto sangue no meu coração!
Ah, se fosses louca por mim, eu me estirava na areia, ficava mirando as estrelas.
Se fosses louca por mim, eu saía correndo de súbito, entre o pasmo da turba inconsútil.
Eu dizia : Woe is me!
Eu dizia: helàs! pra você…
Tanta coisa eu diria que não há poesia de longe capaz de exprimir.
Eu inventava linguagem, só falando bobagem, só fazia bobagem, meu bem.
Ó fatal pentagrama, ó lomas valentinas, ó tetrarca, ó sevícia, ó letargo!
Mas não há nada a fazer, meu destino é sofrer: e seria tão bom não sofrer.
Porque toda a alegria tua e minha seria, se você fosse louca por mim…
Mas você não é louca por mim... Mas você não é louca por mim...


Vinicius de Moraes


ps! Deveis pois, trocar o masculino pelo femino e vice e versa!

quarta-feira, junho 04, 2008

Para uma menina com uma flor


Porque você é uma menina como uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nosasas malas seguiramsozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malasestrangeiras.
E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meucotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar.
E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sairpara fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido.
E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata.
E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca.
E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo vocêse deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho.
E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas.
E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê.
E porque vocêé a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada",a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enchede vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobre tudo porque você é uma menina com uma flor.

quarta-feira, maio 21, 2008

Formato Mínimo

Começou de súbito


A festa estava mesmo ótima


Ela procurava um príncipe


Ele procurava a próxima
Ele reparou nos óculos


Ela reparou nas vírgulas


Ele ofereceu-lhe um ácido


E ela achou aquilo o máximo
Os lábios se tocaram ásperos


Em beijos de tirar o fôlego


Tímidos, transaram trôpegos


E ávidos, gozaram rápido
Ele procurava álibis


Ela flutuava lépida


Ele sucumbia ao pânico


E ela descansava lívida
O medo redigiu-se ínfimo


E ele percebeu a dádiva


Declarou-se dela, o súdito


Desenhou-se a história trágica
Ele, enfim, dormiu apático


Na noite segredosa e cálida


Ela despertou-se tímida


Feita do desejo, a vítima
Fugiu dali tão rápido


Caminhando passos tétricos


Amor em sua mente épico


Transformado em jogo cínico
Para ele, uma transa típica


O amor em seu formato mínimo


O corpo se expressando clínico


Da triste solidão, a rúbrica

terça-feira, dezembro 19, 2006

Acerte tudo que puder, mas não se torture com seus erros!
Paulo Coelho

sexta-feira, dezembro 15, 2006

SIC

É um advérbio latino, que significa literalmente assim. Está presente em muitas frases célebres da tradição ocidental, entre elas o famoso Sic transit gloria mundi ("assim passa a glória deste mundo"), palavras que são ditas (três vezes) na cerimônia de posse um novo papa, como para lembrá-lo de quão breve e vã é a glória deste mundo. Segundo alguns especialistas nas Línguas Românicas, deste advérbio teriam saído o sim do Português e o si do Espanhol.


É usado internacionalmente para indicar ao leitor que aquilo que ele acabou de ler, por errado ou estranho que pareça, é assim mesmo. Quando estou citando o texto de alguém, o sic serve para indicar ao meu leitor que eu sei que o texto original contém um erro ou que estou estranhando aquilo que ali está. Quando eu intercalo um sic no meu próprio texto, estou dizendo que é assim mesmo que eu quero que conste, por estranho ou errado que pareça. É como se eu dissesse ao leitor: "É assim mesmo como você está vendo; não foi erro de cópia ou de impressão".

Quando é um óbvio equívoco de digitação, que não se pode imaginar como erro do autor, não devemos utilizar o sic. Se encontro "um cidavão brasileiro" (por cidadão)", "no Hosdital de Clínicas" (por hospital), "Cabral avistou nossa costa no ano de 7500", trato de corrigir ao fazer a transcrição. Agora, se estou citando um autor em cujo texto aparece obsessão com SC (* obscessão, que Deus nos livre!), tenho diante de mim dois caminhos: (1) ignoro o erro do texto original e já o transcrevo da forma correta (no mundo acadêmico, isso é o que se deve fazer com os amigos), ou (2) reproduzo-o exatamente, acrescentando-lhe o sic. Neste caso, o sic funciona como um poderoso instrumento retórico, já que permite que eu estabeleça com o meu leitor uma cumplicidade superior contra o autor que estou sicando. Na verdade, estou fazendo um impiedoso comentário do tipo "olha só como esta besta escreve errado!" . Eu não quero fazer a correção: eu quero mesmo é desqualificar o argumento deste autor, mostrando que ele deve ser ignorante, já que escreve tão mal assim (é evidente que isso é falacioso, mas sempre funcionou muito bem em argumentação).

Há casos, porém, em que eu não posso fazer espontaneamente a correção, porque a natureza do item que está evidentemente errado ou que me causou estranheza não me permite arriscar uma "correção" subjetiva. Por exemplo: "Ele só tinha 34 [sic] dedos na mão direita" (o erro é óbvio, mas não sua correção: eram 3 ou 4?); "Naquele ano Jobim compôs 97 [sic] músicas de sucesso (parece um exagero; pode estar errado ou não).

Hoje, o sic já está sendo usado como uma forma de transmitir minha opinião sobre a posição de um autor ou sobre um determinado item. Por exemplo, se alguém diz "Esse foi o erro de Freud", posso citá-lo como "Esse foi o erro [sic] de Freud" - e neste caso estarei criticando a posição do autor citado, que está implícita na escolha que fez do vocábulo erro, bem como estarei marcando a minha própria posição (os mais exaltados costumam, aqui, combinar o sic com o ponto de exclamação: "Esse foi o erro [sic!] de Freud"; outros apenas usam a exclamação entre parênteses ("Esse foi o erro (!) de Freud"); outros, a interrogação ("Esse foi o erro (?) de Freud") (Ver Usos Especiais da Pontuação).

Exatamente por esse valor reprovador inerente ao sic, muitas vezes o renome, o respeito, o saber de quem está sendo citado nos obriga a usar, para avisar o leitor de que estamos conscientes da estranheza do que está escrito, de fórmulas mais prudentes e diplomáticas ( [estava assim no original], [aqui parece ter havido erro de impressão], etc.), cujo emprego mostra que estamos tentando apenas constatar um fato, sem intenção crítica ou agressiva.

O sic também é muito usado por profissionais de áreas que lidam diretamente com o público (magistrados, escrivãos, médicos, enfermeiros, etc.) e que são obrigados a registrar declarações e depoimentos. Serve para o mesmo propósito: mostrar que o registro foi fiel, mas que o autor está atento para a estranheza ou a incongruência do que está sendo dito pelo réu, pela testemunha ou pelo paciente. O curioso é que muitos deles me disseram que sic é a sigla para "Segundo Informações Colhidas"! É uma interpretação deveras engenhosa para o Português; apenas esquecem que os ingleses, os franceses, os alemães, os poloneses, até os próprios húngaros (!) (o que há com os húngaros? Leia, na seção de Artigos, Retrato Íntimo de um Idioma), usam o mesmo sic, que é um vocábulo latino, não uma abreviação.

Deve ser escrito em negrito ou itálico, entre colchetes (que é a pontuação recomendada para qualquer intromissão nossa no texto - [o grifo é meu] , [aqui foram obliteradas três linhas completas], etc. Já produziu verbo dele derivado: sicar. Ouve-se muito no mundo acadêmico: "Eu o siquei três vezes", "Ninguém tem coragem de sicar um autor deste porte". Quando um mesmo caso se repete em várias passagens de um texto, usa-se [sic passim] - "está assim por toda parte".

[sic]


Agora eu ja sei o que é! ^^

ps! post editado após comentarios XP


sexta-feira, dezembro 08, 2006

Have you ever seen the rain?

Someone told me long ago
There's a calm before the storm
I know
It's been comin' for some time
When it's over, so they say
It'll rain a sunny day
I know
Shinin' down like water
I wannna know
Have you ever seen the rain?
I wanna know
Have you ever seen the rain
Comin' down on a sunny day?
Yesterday, and days before
Sun is cold and rain is hard
I know
Been that way for all my time
'Til forever, on it goes
Through the circle, fast and slow
I know
It can't stop,
I wonder
I wanna know
Have you ever seen the rain?
I wanna know
Have you ever seen the rain
Comin' down on a sunny day?
Yeah!
I wanna know
Have you ever seen the rain?
I wanna know
Have you ever seen the rain
Comin' down on a sunny day?

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Voo contigo

E voo contigo…
Voo contigo sem parar…
Pelas brumas do tempo,
Sem ter medo…
Pelas nuvens da vida,
Sem preocupações…
Pelos Azuis dos céus
Sem olhar para trás…
E quando voo contigo,
Sonho…
Brinco…
Riu…
Danço…
Vivo…
Como uma criança feliz…
Por saber que existes,
Por saber que me amparas,
Por saber que me aconchegas,
No teu colo…
Como um sol, que me ilumina…
E dou-te um beijo de criança,
Com muito carinho…
Daquela criança eterna,
Que está dentro de mim…
O tempo para…
Quando voo contigo…