quarta-feira, setembro 06, 2006

Labirintos: a vida entre os arcos


O quanto custa você ouvir a dor e a impotência na fala de quem você quer bem, uma amiga, alguém como você, que foi ¿mal vista¿, vista pela metade? Alguém que você viu tecer tantos sonhos... O quanto custa você ver o que este alguém não pode ver, porque se diz doente? O quanto custa você ver luta, sensibilidade e doçura, sangue guerreiro em alguém que se vê impotente e insensível? Que não vê sentido na vida.
O quanto custa você ver omissão no lugar da ação? Saber que não pode ouvir nada, exceto aquilo que não é. O quando custa ouvir o não dito no lugar do vazio que é dito? O quanto custa você ver vítima no lugar do humano? Ver a afirmação da sombra no lugar da vida com poesia?
O quanto custa estar no infinito, se deixar atravessar por outro mundo que só se preocupa em não se machucar, que não te penetra, nem se desloca? Sentir metade, quando se aposta em ser inteiro. Ver o aquém, sem estar além. O quanto custa você não poder explicar uma só vez aquilo que só consegue compreender. O quanto custa saber que só lhe resta calar quando gostaria de gritar?
O quanto custa enfrentar o saber asséptico, os uniformes disformes, os especialismos, os objetivismos, a lógica burra que cria um abismo entre nós e a paisagem que vislumbramos? O quanto custa deparar-se com um muro onde parece escrito em letras quadradas, desumanas, sem sangue e poesia: ¿você não pode¿? Um muro que parece nos empurrar para o vazio, querendo nos interditar vida.
O quanto custa lançar a alma no espaço por entre prisioneiros? O quanto custa ser inacabada quando a sua volta há tanto ser acabado? O quanto custa transitar em espiral num mundo em círculo? O quando custa viver num mundo que se quer dramático?
Sim, eu ontem andei entre setas, bem no meio de arcos, das vidas arcaicas, metódicas, assépticas. Não diversas. Nem inversas. Tampouco subversas. Perversas! Desesperadas...
Só serviu pra afinar meu tom...Isso! O custo..., ele pode ser bem menos. Bem menor. Quando tudo que se tem de mais importante são os sonhos e a cultivo da liberdade. Quando se ama a vida, sabendo que ela se faz em labirinto. Sabendo que ela se tece entre acasos e apostas, com um tanto de dor e outro de festa. Que seu palco é experimental...
Desde que se aprenda a encenar a vida, no cotidiano... com liberdade prá escolher seu melhor papel a cada instante...
Um momento professora, outro amiga... médica, psicanalista, amante, companheira, advogada, escritora, confidente, mulher... Mas antes de tudo, alma livre pra ser o que quiser, pra o que der e vier...