sexta-feira, outubro 06, 2006

Sono sob o luar

A claridade no quarto chamou sua atenção. Não havia ninguém em casa e ela tinha certeza de que tinha apagado as luzes do quarto antes de entrar no banho.
Ela abriu a porta, a mochila ainda estava entreaberta em cima da cama. As apostilas de física estavam prestes a cair mas ela não tinha a intensão de colocá-las no lugar, a gigantesacsa lua cheia chamava mais sua atenção.
Era algo como ela não via ha muito tempo, lembrou do tempo de criança qd em noites de lua cheia ia com seu pai pracasa de praia deitar na rede e olhara lua. Tempo bom aquele...
Um ar de melancolia se instaurou no ar, ela sentou na cama ainda enrolada na toalha e passou longos minutos observando a lua. O seu encanto por ela sempre fora grande mas de uns anos pra cá ele tinha se tornado maior, talvez porque a lua fosse como ela, cheia de fases...
Os longos cabelos molhados começaram a escorrer e as gotas d'agua a trouxeram de volta do seu pensamento distante. Começou a desembaraça-los sem pressa, queria mesmo era ficar olhando a lua, olhando as nuvens que pareciam dançar ao seu redor.
A claridade do luar invadiu completamente o quarto quando ela abriu as cortinas, a noite estava realmente muito bela.
Ela deitou na cama, agora suas apostilas estavam todas espalhadas pelo chão, passou a mão pelo edredom e pegou seu ipod que ja tinha caido da mochila. Queria ter certeza de que ouviria a musica esperada, mas não tinha. Ficou com medo de ligar e estar tocando uma musica que estragaraia esse momento perfeito.
Arriscou.
Acertou.
O momento perfeito embalado pela musica perfeita. Ela deixou-se levar pela melodia da musica, a toalha escorregou pelo seu corpo, mas este ja não era mais seu, ela ja não estava mais nesse mundo. Deitou na cama e acabou adormecendo sob o luar.

quarta-feira, outubro 04, 2006

"Have I got to call you?
Have I got to make this true?
I could take your breath away
But I won't be there, and you'll stay

The time,
A wish,
One smile,
One kiss,
A kiss,
A fever,
For long,
Forever..."

segunda-feira, outubro 02, 2006

Depois do jantar

Também, que idéia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar.O vulto caminhava em sua direção, chegou bem perto, estacou à sua frente. Decerto ia pedir-lhe um auxílio.
— Não tenho trocado. Mas tenho cigarros. Quer um?
— Não fumo, respondeu o outro.Então ele queria é saber as horas. Levantou o antebraço esquerdo, consultou o relógio:
— 9 e 17... 9 e 20, talvez. Andaram mexendo nele lá em casa.
— Não estou querendo saber quantas horas são. Prefiro o relógio.— Como?— Já disse. Vai passando o relógio.
— Mas ...
— Quer que eu mesmo tire? Pode machucar.
— Não. Eu tiro sozinho. Quer dizer... Estou meio sem jeito. Essa fivelinha enguiça quando menos se espera. Por favor, me ajude.O outro ajudou, a pulseira não era mesmo fácil de desatar. Afinal, o relógio mudou de dono.
— Agora posso continuar?
— Continuar o quê?
— O passeio. Eu estava passeando, não viu?
— Vi, sim. Espera um pouco.
— Esperar o quê?
— Passa a carteira.
— Mas...
— Quer que eu também ajude a tirar? Você não faz nada sozinho, nessa idade?
— Não é isso. Eu pensava que o relógio fosse bastante. Não é um relógio qualquer, veja bem. Coisa fina. Ainda não acabei de pagar...
— E eu com isso? Então vou deixar o serviço pela metade?— Bom, eu tiro a carteira. Mas vamos fazer um trato.
— Diga.
— Tou com dois mil cruzeiros. Lhe dou mil e fico com mil.
— Engraçadinho, hem? Desde quando o assaltante reparte com o assaltado o produto do assalto?
— Mas você não se identificou como assaltante. Como é que eu podia saber?
— É que eu não gosto de assustar. Sou contra isso de encostar o metal na testa do cara. Sou civilizado, manja?
— Por isso mesmo que é civilizado, você podia rachar comigo o dinheiro. Ele me faz falta, palavra de honra.
— Pera aí. Se você acha que é preciso mostrar revólver, eu mostro.
— Não precisa, não precisa.
— Essa de rachar o legume... Pensa um pouco, amizade. Você está querendo me assaltar, e diz isso com a maior cara-de-pau.
— Eu, assaltar?! Se o dinheiro é meu, então estou assaltando a mim mesmo.
— Calma. Não baralha mais as coisas. Sou eu o assaltante, não sou?
— Claro.
— Você, o assaltado. Certo?
— Confere.
— Então deixa de poesia e passa pra cá os dois mil. Se é que são só dois mil.
— Acha que eu minto? Olha aqui as quatro notas de quinhentos. Veja se tem mais dinheiro na carteira. Se achar uma nota de 10, de cinco cruzeiros, de um, tudo é seu. Quando eu confundi você com um, mendigo (desculpe, não reparei bem) e disse que não tinha trocado, é porque não tinha trocado mesmo.
— Tá bom, não se discute.
— Vamos, procure nos... nos escaninhos.
— Sei lá o que é isso. Também não gosto de mexer nos guardados dos outros. Você me passa a carteira, ela fica sendo minha, aí eu mexo nela à vontade.
— Deixe ao menos tirar os documentos?— Deixo. Pode até ficar com a carteira. Eu não coleciono. Mas rachar com você, isso de jeito nenhum. É contra as regras.
— Nem uma de quinhentos? Uma só.— Nada. O mais que eu posso fazer é dar dinheiro pro ônibus. Mas nem isso você precisa. Pela pinta se vê que mora perto.
— Nem eu ia aceitar dinheiro de você.
— Orgulhoso, hem? Fique sabendo que tenho ajudado muita gente neste mundo. Bom, tudo legal. Até outra vez. Mas antes, uma lembrancinha.Sacou da arma e deu-lhe um tiro no pé.


Carlos Drummond de Andrade